quarta-feira, 24 de setembro de 2008

LARANJAS-DA-TERRA

Quando se popularizou o microônibus disse a mim mesmo: eis mais uma imagem para a crônica. Ambos se parecem. São vizinhos. Na crônica cabem poucos personagens, no microônibus, poucos passageiros; a crônica é curta e leve; o microônibus pelo próprio prefixo grego “Micro” já indica que é pequeno, curto. Microcéfalo, por exemplo, é o que tem a cabeça muito pequena ou curta, depende do sentido; microcosmo é um mundo pequeno e microcorrupção é uma coisa que não existe no país. Quiçá, no mundo.

Quanto a leveza, na crônica resolve-se no sentido figurado das palavras, a leveza é do pensamento, porém, no microônibus essa leveza é literal e foi resolvida retirando-se do veículo o pobre cobrador e diminuindo-se o espaço para idosos e estudantes e amortecendo o salário do motorista-júnior que faz dupla-função: dirige e cobra.

Quando embarco num microônibus sempre tenho a sensação de estar viajando numa crônica; ainda mais quando ergo os olhos e leio o aviso na plaqueta: “Fale ao motorista somente o indispensável”. Quem leu Ezra Pound sabe que no seu livro ABC da Literatura ele aconselha a verificar quais e quantas são as palavras inúteis na composição dum texto. E aqui entra novamente a plaqueta, só que agora parafraseada: Fale ao leitor somente o indispensável. Ocorre que os motoristas são seres humanos e às vezes eles é quem acordam com vontade de falar mais do que o indispensável.

Não é fácil dar de 4 a 7 viagens num microônibus, monologando de si para si. Ora, deu-se o caso de uma tarde um motorista da Baixada Fluminense trocar o monólogo pelo diálogo e começou a dizer a dois estudantes que Nilópolis foi o maior produtor de laranja do Estado do Rio de Janeiro em 1940. Isto ele tinha ouvido numa igreja. De fato a Baixada foi muito rica em laranja no passado, tanto que existem umas laranjinhas na bandeira da cidade de Nova Iguaçu. E dizia o motorista: “Passa lá hoje pra ver se você vê um pé de laranja?!”. Eu que durante a viagem monologava sobre a questão dos deficientes visuais, disse com voz do tamanho de microônibus, de crônica: pobre motorista-júnior! Não consegue enxergar um pé de Laranja! Assim vai ser júnior para o resto da vida! Amo os cegos, mas detesto a cegueira, dessas que não vi nada, não sei de nada...Amo os cegos, mas aborreço os que são pagos para fechar os olhos. Prefiro um poeta pobre de olhos abertos a um Secretário de Fazenda, um pastor de olhos fechados.

Hoje não sei quem é o maior produtor de laranja, mas sei que o motorista parece o moço de Eliseu. Eliseu era um profeta que fazia saber ao rei de Israel todos os planos do rei inimigo, o rei da Síria, que chegou a pensar haver traidores no seu reino, porém, um dos seus servos lhe disse: “Há um profeta por nome Eliseu que faz saber ao rei de Israel as palavras que tu, Oh rei da Síria, fala na câmara de dormir!”.

À noite, o rei sírio mandou um exército cercar a cidade onde estava Eliseu. Bem cedo quando o moço se levantou e saiu, viu-se cercado por um grande exército com cavalos e carros e disse a Eliseu: Ai, meu senhor! Que faremos? E Eliseu respondeu, não temas; porque mais são os que estão conosco do que estão com eles. E orou Eliseu: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo em redor dele e de Eliseu. Veja o leitor que o moço de Eliseu só via o inimigo; não via em volta de si o exército que os protegia. Se bem que certos pastores também não andam vendo, não. Andam cercados de homens armados até os dentes. Que show da fé é esse? Esse espetáculo já é paisagem de todos os dias. Apoteótico seria, já pensou que belo, os pastores cruzando a Avenida Presidente Vargas cercados de cavalos e carros de fogo!

Mas voltando ao moço, foi preciso Eliseu orar, pedindo a Deus que abrisse os olhos do rapaz. Pois inspirado nessa história resolvi fazer a mesma oração pelo motorista baixadense, de Nilópolis, dentro do microônibus cheio: “Ó Senhor, peço-te que lhe abras os olhos para que veja...” e o Senhor abriu os olhos ao motorista, e ele viu; e eis que a Baixada Fluminense era um lindo pomar, cheia de pés de Laranja. Pés de Laranja 34/35/36/37/38/39/40...



* Crônica publicada no Jornal Hoje - Diário da Baixada Fluminense, no período de 20 a 30 de abril de 2007

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A POLÍTICA DO CANGURU

Na infância eu ia muito à casa dos meus avós por parte de madrasta. Ficava em Campo Grande, Zona Oeste do Rio, quilômetro 42 e pegávamos a viação Ponte Coberta para chegar lá. Em volta da casa havia campos de futebol, mais distante, olarias, fabricando tijolos fresquinhos e muitos escorpiões que capturávamos pelo rabo, mergulhávamos no álcool e viravam remédio para as feridas. Lembro que havia pelotões de pés de quiabos, verdinhos, onde pela manhã pousavam o sol, canários e coleirinhas e minhas esperanças de escritor.

De propósito deixei para dizer agora que nos fundos da casa dos meus avós fica o rio Guandu, onde pescávamos traíras, piabas e entre a casa e o Guandu havia muitos eucaliptos e um bom pedaço de mata. À tardinha o vento passando por entre as folhas dos eucaliptos parecia alguém fritando uma grande quantidade de batatas. Foi por entre essas folhagens que um dia vi um canguru. Alertei vovô e ele logo veio armado de um porrete de eucalipto, deixando-me muito triste, mas ainda bem que o canguru fugiu.

Qualquer pessoa sabe que canguru é com a Austrália, a Tasmânia, Nova Guiné e Ilhas Aru, porém, o Brasil é uma terra tão boa que é possível ganhar mais de quinhentas vezes na loteria! Às vezes até no mesmo dia. Ora, por que o espanto de um canguruzinho em Campo Grande?! Mas foi um espanto. A notícia correu. Todos ficaram de olho, mas ele nunca mais apareceu, ele não, ela, porque antes de chamar meu avô, fiquei olhando um tempo para ela, tentando desenhá-la, pois duas coisas me atraíam na infância: a pintura e as palavras. Isso me dividia e ora colocava a boina do meu pai e me sentia um Picasso, ora escrevia palavras desarrumadas e fazia pose de Mário Quintana ou Drummond.

Hoje como vocês podem ver, escolhi a escrita, porém, sempre tive o defeito de querer abraçar o mundo com as pernas e para não perder de tudo, tornei-me um escritor imagético em vez de jurídico.

Mas a certeza de que o canguru era fêmea veio do filhotinho na bolsa, vez por outra se escondendo para dar uma mamadinha. Naquele rápido encontro pude ver que mamãe canguru por diversas vezes o empurrava para fora da bolsa e o tocava para que fosse adiante como quem diz: Filho, chega de leitinho! Um canguru evolui do leite para as folhas e já é hora de você comer as folhas da grande literatura! Mas o bichinho em vez de pular para frente, saltava para trás, para dentro da bolsa e começava a mamar nervosamente. E como ficaram naquele lenga-lenga, ela empurrava para fora da bolsa e ele saltava para dentro da bolsa, fui chamar vovô.

Por esses dias os meios de comunicação divulgaram que muitos dos que têm o bolsa família e outras bolsas mais, estão se recusando a trabalhar de carteira assinada para não perder, obviamente, a bolsa.

Parece história de canguru, onde a Pátria Canguru empurra seus Cangurus para a carteira assinada, mas eles saltam para dentro da bolsa de novo e começam a mamar nervosamente. Assim a taxa de desemprego não cai nunca. Fica difícil dizer "Pra frente Brasil"; "Este é um país que vai pra frente"; "Pra cima deles, Brasil" se os nossos cangurus saltam para trás.

Se meu avô estivesse vivo diria que é safadeza desses tipos de cangurus e certamente apanharia o seu porrete de eucalipto e botaria todo mundo pra correr do bolsa, entretanto, prefiro ver isso como a Política do Canguru.

No fundo é sempre bom ter uns milhões de canguruzinhos dependentes, principalmente na hora da eleição: Vem, filho, tomar leitinho! De que adianta carteira assinada? Você não vai se aposentar mesmo!

crônica publicada em 02 de março de 2007, no jornal Hoje - Diário da Baixada Fluminense.

Elogio da Chuva

Caro Lukata, meu nome é Aedes Aegypti de Souza, tenho 6000 anos, mas só de uns tempos para cá é que nós, os Aedes, graças a Andy Warhol e um pouco da nossa maldade, começamos a nos tornar midiáticos.

Vejamos, nós os Aedes, entramos na festa de ser respeitado pelo mal que podemos causar. Já somos sucesso estadual e com a ajuda da Nossa Senhora dos Mosquitos a nossa fama vai ser nacional e internacional!

Mas não é a mim que desejo elogiar. Entre os dias 14 e 21 de março, Dia Nacional e Internacional da Poesia, respectivamente, mais exato, dia 17, jornais e TVs acusavam a Chuva de ter deixado 53 feridos em todo o estado. Não há nenhuma poesia nisso. Aliás, aqui no rio a Chuva não é poesia. Aqui a chamam de tragédia, de estraga prazer nos finais de semanas... Já a chamaram até de chuva assassina! Chuva assassina? Chuva assassina é essa chuva de ogivas que fica trovejando, ameaçando, passando para lá e para cá nos céus da mídia. A própria França anunciou, através de Sarkozy, que vai diminuir a sua chuva de ogivas nas Forças Armadas: menos de 300. O tamanho exato ela não diz, porque considera segredo de Estado. Ingênua França! Espera que os outros países digam o tamanho aproximado dos seus arsenais. É claro que todos vão dizer: menos de 300. E não dirão o tamanho exato por ser considerado segredo de Estado. Parece que estamos no meio de meninos medindo o tamanho dos seus pintinhos; Quem falará o verdadeiro tamanho do seu arsenal? O tamanho exato do meu pintinho não digo a ninguém. É segredo de Estado.

Mas não é só na Terra que existe segredo de Estado. No céu, Deus tem o seu segredo de Estado, está escrito, Deuteronômio 29:29, “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as reveladas pertencem a nós e a nossos filhos...”. Creio, muitos sabem, houve uma guerra no céu e Miguel e os seus anjos deram uma surra no dragão, a antiga serpente, o diabo, Satanás e foram precipitados na terra, ele e seus anjos golpistas. E recebeu a terra, uma chuva de anjos derrotados. A bíblia não fala, mas enquanto o diabo caía do céu à terra, um dos anjos derrotados lhe fez uma pergunta:

- Satanás, por que é que o nosso golpe deu errado?! Satanás que nunca tinha falado um palavrão no céu, quem criou o palavrão foi ele, vocês humanos só o aperfeiçoaram para Caraca! Caramba! Respondeu:
- Quê quié, merda! Foi um tal de segredo de Estado! É! Quando eu me esborrachar na terra, vou criar umas organizaçõezinhas, cheias de segredinhos também! Esse negócio de segredo de Estado dá certo!

O que deve ou não, ser segredo de Estado, depende de cada cultura, cada país. Uns entendem segredo de Estado no sentido Stricto Sensu, outros no sentido Lato Sensu. O Brasil é o país do Lato Sensu: até tapioca é segredo de Estado.

Mas a França pede, ainda, à China e aos Estados Unidos para não brincarem com armas nucleares, mas nessa chuva os Estados Unidos não querem se molhar de jeito algum, e sonha com o seu guarda-chuva atômico. Isso sim é uma chuva assassina, Lukata. Quer mais assassina do que a chuva de balas perdidas? Assassina é a chuva de fraudes, e que chuveiro! Assassina é a chuva de Aedes Aegypti, que por acaso sou o Aedes chefe, e mato mesmo, mato até criancinhas, mas a chuva, coitada... Nada a ver.

Agora, aparece um monte de feridos, de mortos por esse mundo e a culpa é da Chuva? Das águas de março? Da poética água de março? Bando de Adão e Eva! Reclamam da Chuva, mas vocês de cérebro e razão também têm as suas chuvaradas! Nós damos 15, 20, 25 picadas em vocês até matar mesmo e assumimos, mas vocês, não! Dão 15, 20, 25 tiros noutro ser humano e saem por aí alegando legítima defesa, bala perdida...

Vocês chamam a Chuva de água de assassina, mas amam a Chuva de Sangue. É no cinema, é na vida real... Meu santo deus dos mosquitos! Eu estava outro dia mordendo o joelho de um garota, quando ouvi na TV a chamada de Rambo IV e começava assim: “Muito sangue, tiros...”. E nos jornais? “Sangue, tiros e muita testosterona...”; e na vida real é 30, 40, 80 tiros em Fulano, em Beltrano... Assassina! Tá! Assassina é quem tem cérebro! Assassina é essa chuva de raposas na política. E ainda exigem que os livros doados às bibliotecas nos presídios sejam livros que não estimulem a violência, a astúcia. Olha aí a raposa! A astúcia é tratada com dois pesos e duas medidas nesse país. Para um lado ela é livre, aplaudida e incentivada por padres, pastores, políticos, advogados, mas para outros, não! Só mesmo na cabeça de raposa que cabem essas coisas! Que padre? Baltasar Gracián! Que pastor? É só ver TV e ouvir rádio! Que político e advogado? Perdi as contas!

Liga não, Aedes de Souza! Aqui nesse Rio de Janeiro eu sou mal vista, mas ainda bem que o ponto de vista não é um só. Lá para o Nordeste me chamam de Chuva-de-Caju; Chuva-dos-cajueiros; Chuva-dos-imbus; Chuva-dos-imbuzeiros; lá em Goiás eu sou Chuva-de-manga!
Aqui mesmo eu deveria ser chamada de Chuva-dos-morangos, chuva-das-melancias...

Quando eles vão à feira em dezembro, encontram morangos robustos, melancias enormes, vindas do interior do estado e, no entanto, ingratidão! Chuva-de morangos! Quer mais poesia do que essa?! A poesia cada vez mais se afasta desse mundo, olha a notícia: “morre o músico cubano Israel “Cachao” Lopez, pai do mambo”. O que você acha, Aedes?

- Acho que mais um pouquinho e a notícia seria diferente: “Morre..., pai do Rambo”

Crônica publicada na época da Dengue 2008

O SERMÃO DA PICANHA

Irmãos em Cristo! Convidei o pastor Picanha para pregar hoje à noite, mas até agora ele não chegou. Aguardemos o homem de Deus e enquanto isso, contar-vos-ei um pouco de história, historinha:

Quem descobriu o fósforo foi Hennig Brand, no ano 1669, em Hamburgo, na Alemanha. E quem descobriu o fósforo que hoje vem na cabeça do palito foi Anton Von Shöter, no ano de 1845, Alemanha, mas quem descobriu o fósforo aceso em contato com o balde cheio de gasolina junto ao barracão, na Vila Tiradentes, em 1970, fui eu.

- Licença! Atendeu o celular. Era o pastor Picanha, gente! Ele tá preso no trânsito.

Mamãe me avisou para não jogar fósforo aceso num balde de 20 litros perto do barracão onde morávamos, porque estava cheio de gasolina. Não resisti. Arrastei o balde em chamas para cima do patinete ao preço de uma sobrancelha queimada. Já tinha ouvido falar que Deus guiava os filhos de Israel numa coluna de fogo à noite, mas criança não agüenta esperar e joguei logo o fósforo aceso, Deus acendeu e o levei para passear de patinete à tardinha mesmo.

Percebi que Ele gostava de água e a cada baldinho Deus crescia mais e mais até o céu e eu O levava para dar um abraço caloroso nos amiguinhos da rua, mas todos saiam gritando que “Deus era fogo consumidor!”.

- Pastor Picanha ligou que o trânsito está melhorando, mas ele vai dar uma paradinha no estacionamento do posto de gasolina, onde ele mantém vaga cativa, para trocar de carro: toda vez que sai para pregar, gente, ele passa no estacionamento e deixa seu carro Zero, no valor de R$190,000 e sai de lá com um fusca velho, caindo os pedaços que é para não chamar a atenção dos fiéis.

Dava para entender o medo de um Deus de Fogo Consumidor... Naquele tempo no bairro de Vila Tiradentes havia muitos barracos. O comércio: a barraca da Natália, a barraca do João Ratão, o Ponto Azul, ponto de referência para os caminhoneiros vindos de São Paulo, tudo era madeira. Mas eram os anos 70. O Brasil sendo tricampeão do mundo. Quem queria saber que em Vila Tiradentes havia barracos? No céu os balões davam cabeçadas tarde após tarde, gol após gol.

Era tempo das notas de Santos Dumont, de dez cruzeiros novos. Pastor Picanha já está chegando, gente! Ah, se no bolso do meu pai houvesse muitos Santos Dumont dando cabeçadas. Nada! Mal dava para comida. Morar num barraco alugado já explica muita coisa. Barraco mesmo com direito à lacraias,ratos, caranguejeiras, cobras, lobisomens, ladrões forçando as janelas e os “Irmãos Coragem”. “Irmãos, é preciso coragem...” Era preciso coragem mesmo para morar em Vila Tiradentes.

Lá em casa, Santos Dumont mal aterrissava, naquelas notas marrons e verdes muito bonitas e levantava vôo rapidinho das mãos do meu pai. E nunca houve atrasos nos vôos. Se, por exemplo, comprasse um carrinho, meus carrinhos eram de caixas de fósforo, faltava para o ovo. Ovo... As coisas não mudaram muito do meu pai para mim...

Outro dia fui preparar um ovo e ao riscar um fósforo, sofismei: o fósforo brilha porque se rala na aspereza. Poética a frase embora passando pelo centro do Rio, pela Presidente Vargas, vejo muitos fósforos que ralam, ralam na aspereza e não brilham; embora muitos fósforos não consigam nem sair da caixa. E dos que saem, muitos se quebram no caminho, perdem a cabeça. Em vez de para frente, ralam-se para trás. Há fósforos que não brilham porque não se mantém longe da umidade, conforme a recomendação na caixa. Há fósforos que por ficarem perto do calor, brilham cedo demais. Existe a hora certa para um fósforo brilhar. Existe a hora certa para um fósforo brilhar?

Echo! Aí está o pastor Picanha! Ouçamos com ele o Sermão da Picanha:

- Pois é, irmãos! Deus é assim: chamou uns para ter dez ternos e outros para ter um terno até o fim da vida; chamou uns para andar a pé e outros para andar de avião em avião; chamou uns para comer ovo e outros para andar de churrascaria em churrascaria... Por essa teologia, Deus chamou uns para acender o fogo com fósforos e outros para apertarem apenas um botão. Deus é assim.

Tempos depois, o pastor Picanha teve que dar um tempo de ir à churrascaria. Hoje carrega uma cicatriz que desce do alto do peito, barriga, coxa, canela até o calcanhar e cinco pontes safenas. Eu não queria dizer, mas... Deus é assim.

La música del amor

tuyo triângulo invertido
emite un sonido
claro y vibrante
en un oscuro brillante
se te golpea mi bastón de carne y ilusión
que es metal cuando te beso

Teclas

Uma mulher carrega teclas escondidas sob a pele e exala música se tocada com ternura
a vida, para cima, é um jardim de exuberantes flores para os olhos;
para baixo, uma intensa batalha de raízes.



Se encontrares uma raposa morta na estrada
arranca-lhe sete dentes sem anestesia
antes de levá-la para casa





o lodo se arrasta sempre
e quando sobe
é apoiado na parede