Há muitos mistérios nesse mundo. Abrindo o jornal dei com mais este: “balões são achados; padre, não”. Dizia a notícia que os balões foram encontrados em mar aberto. E que mistério é esse? No final do ano passado os bancos estavam rotundos como os balões do padre, comemoravam na mídia os recordes, os lucros e de repente: Vento. Quebradeira dos bancos. Que sucesso é esse, mal sai do berço, ingressa na sepultura? Temos que fazer exumação de cadáver. E que a perícia não seja palha. Outro efeito dominó?! Não sei. Alguém já foi a enterro de banco? É uma tristeza regada a champanhe francês e caviar. A ressurreição é melhor ainda. Vem o deus Governo e lhe dá todo o poder no céu e na terra.
Mas que mundo: some criança, some mulher, some sucesso, some dinheiro público... E quando some dinheiro público, acham-se os balões de festa, aquele que fez a festa, mas com o dinheiro, na maioria das vezes, acontece o que aconteceu ao padre. E temos Força Aérea, Marinha, Bombeiros... Por falar nessas forças, também desejo que elas me auxiliem na busca daquelas plaquinhas dos itinerários. Sumiram dos ônibus. Ficavam no alto, perto do teto. Na infância, anos 70, eu treinava leitura nelas. Gostaria de saber se elas caíram em mar aberto ou mar do esquecimento ou no mar da Má-fé, porque os motoristas de hoje não obedecem ao itinerário. Passageiro embarca achando que o ônibus vai, exemplo, pelas ruas Fulano e Beltrano e quando vê, ele entra na rua Sicrano:
- É ordem do despachante! É ordem da empresa! Vai reclamar com o papa da empresa.
Tudo é festa. Soltem os balões! Despachante e empresa mandam mais que passageiro. Será que a empresa sabe disso?! Se sabe, já não é só concessionária, é um Poder e não mais atrás, mas adiante do trono. Se sabe, governos sob cordelinhos é passado. A luta agora é franca. Guarda baixa. Abaixo a técnica. É a Concessionariocracia.
Assim acontece aos passageiros o que aconteceu ao padre: somem. Vão parar na concorrência. Transportes piratas. E os piratas do momento evoluíram, a coisa se alastrou e além da perna eles têm a cara-de-pau.
Não entendo essa de enfrentar a concorrência aumentando as passagens. Dono de empresa de ônibus não estuda filosofia, nem lógica, senão descobriria que seus argumentos de aumentar para compensar a perda dos passageiros é uma falácia, raciocínio incorreto. Ora, não é certo que se abaixarem os preços das passagens, sem tirar o ar condicionado e desobedecer ao itinerário, os passageiros não voltam correndo? E não há japonês que impeça: Passageiros, bancos e varizes sempre voltam.
Pobre concorrência! É a mais espancada das mulheres. Tempos atrás, século passado, na porta do Banco do Brasil fazia-se uma fila enorme, encaracolável, para o pessoal da prefeitura receber na “Boca do Caixa”. Uma amiga que já havia recebido o pagamento teve idéia de aumentar a remuneração, aparecendo minutos depois, oferecendo água mineral a preço menor do que os vendedores antigos. Seu pregão: “água boa e barata” viveu 40 segundos e recebeu certidão de óbito. Aos gritos de pega, pega, só deu tempo de ver a concorrência sumindo na esquina, sem chinelos e água mineral.
Ah, os bondes! Eu sei, até os bondes saíam dos trilhos, mas não muito. Só o de Nilópolis saía sempre porque o burrinho era de circo e burro de circo é para levar e trazer alegria em vez de transportar carrancas para o trabalho. Não creio que as empresas andem contratando burrinhos de circo. Circo de Fórmula 1.
Mas seria a crônica leviana se dissesse: todos os motoristas desobedecem ao itinerário. Alguns são democráticos e num breve plebiscito sobre rodas consultam os passageiros: alguém vai ficar na Praça do Skate? Se todos dizem não, eles cortam caminho, indo pelo viaduto, direto para a Rodoviária da Pavuna a fim de ganhar tempo; alguém vai ficar no Parque Colúmbia? Se um diz sim, esse único voto prevalece sobre a maioria.
E talvez um motorista esteja dizendo: este cronista só pode ser cego. Não vê que as tais plaquinhas apenas mudaram de lugar? Saíram de perto do teto e foram para a frente dos ônibus? Quem faz sinal logo vê o itinerário.
- Sim, motorista. Mas nas plaquinhas da minha infância os itinerários eram de ruas, os de hoje são de bairros. Um bairro tem muitas ruas.
E talvez você esteja replicando, motorista. Você dos descaminhos: Mas da Rodoviária da Pavuna à Praça do Skate é pertinho! Uns 500 metros !
- Sim. É perto, mas para mulher de 80 anos, aposentada, que ainda lava e passa para fora e arrasta bolsas de roupa por aí; para um homem de 60 anos que, recentemente, perdeu a perna para a diabete e precisa ir sempre à perícia para revalidar o modesto benefício da invalidez; um homem que via suas duas pernas diante do espelho e agora bate muletas sobre asfalto torto e esburacado, esse perto fica longe, muito longe.
Quando você fala desse jeito, motorista, entristece porque ao meu amigo falta uma das pernas para andar, mas a você faltam as duas pernas do cérebro. E carrego esse misto de compaixão e terror por ser você também um explorado, escravo do “Tempo de Viagem” e por qualquer coisinha lhe arrancam uma perna do salário. E aqui faço a minha palinódia, porque não lhe faltam as duas pernas do cérebro. Teu cérebro tem pernas de mais. Pra quê tanta perna meu Deus! Teu cérebro é um polvo. O que lhe falta, motorista, são as pernas do sentimento.
Não. Não desejo nunca, motorista, que você fique diabético, perca uma das pernas e tenha que dirigir muletas para voltar a sentir e compreender essas distâncias.
Para a matemática sempre serão uns 500 metros, uns 5 minutos, mas para a vida podem ser mil anos.
Mas que mundo: some criança, some mulher, some sucesso, some dinheiro público... E quando some dinheiro público, acham-se os balões de festa, aquele que fez a festa, mas com o dinheiro, na maioria das vezes, acontece o que aconteceu ao padre. E temos Força Aérea, Marinha, Bombeiros... Por falar nessas forças, também desejo que elas me auxiliem na busca daquelas plaquinhas dos itinerários. Sumiram dos ônibus. Ficavam no alto, perto do teto. Na infância, anos 70, eu treinava leitura nelas. Gostaria de saber se elas caíram em mar aberto ou mar do esquecimento ou no mar da Má-fé, porque os motoristas de hoje não obedecem ao itinerário. Passageiro embarca achando que o ônibus vai, exemplo, pelas ruas Fulano e Beltrano e quando vê, ele entra na rua Sicrano:
- É ordem do despachante! É ordem da empresa! Vai reclamar com o papa da empresa.
Tudo é festa. Soltem os balões! Despachante e empresa mandam mais que passageiro. Será que a empresa sabe disso?! Se sabe, já não é só concessionária, é um Poder e não mais atrás, mas adiante do trono. Se sabe, governos sob cordelinhos é passado. A luta agora é franca. Guarda baixa. Abaixo a técnica. É a Concessionariocracia.
Assim acontece aos passageiros o que aconteceu ao padre: somem. Vão parar na concorrência. Transportes piratas. E os piratas do momento evoluíram, a coisa se alastrou e além da perna eles têm a cara-de-pau.
Não entendo essa de enfrentar a concorrência aumentando as passagens. Dono de empresa de ônibus não estuda filosofia, nem lógica, senão descobriria que seus argumentos de aumentar para compensar a perda dos passageiros é uma falácia, raciocínio incorreto. Ora, não é certo que se abaixarem os preços das passagens, sem tirar o ar condicionado e desobedecer ao itinerário, os passageiros não voltam correndo? E não há japonês que impeça: Passageiros, bancos e varizes sempre voltam.
Pobre concorrência! É a mais espancada das mulheres. Tempos atrás, século passado, na porta do Banco do Brasil fazia-se uma fila enorme, encaracolável, para o pessoal da prefeitura receber na “Boca do Caixa”. Uma amiga que já havia recebido o pagamento teve idéia de aumentar a remuneração, aparecendo minutos depois, oferecendo água mineral a preço menor do que os vendedores antigos. Seu pregão: “água boa e barata” viveu 40 segundos e recebeu certidão de óbito. Aos gritos de pega, pega, só deu tempo de ver a concorrência sumindo na esquina, sem chinelos e água mineral.
Ah, os bondes! Eu sei, até os bondes saíam dos trilhos, mas não muito. Só o de Nilópolis saía sempre porque o burrinho era de circo e burro de circo é para levar e trazer alegria em vez de transportar carrancas para o trabalho. Não creio que as empresas andem contratando burrinhos de circo. Circo de Fórmula 1.
Mas seria a crônica leviana se dissesse: todos os motoristas desobedecem ao itinerário. Alguns são democráticos e num breve plebiscito sobre rodas consultam os passageiros: alguém vai ficar na Praça do Skate? Se todos dizem não, eles cortam caminho, indo pelo viaduto, direto para a Rodoviária da Pavuna a fim de ganhar tempo; alguém vai ficar no Parque Colúmbia? Se um diz sim, esse único voto prevalece sobre a maioria.
E talvez um motorista esteja dizendo: este cronista só pode ser cego. Não vê que as tais plaquinhas apenas mudaram de lugar? Saíram de perto do teto e foram para a frente dos ônibus? Quem faz sinal logo vê o itinerário.
- Sim, motorista. Mas nas plaquinhas da minha infância os itinerários eram de ruas, os de hoje são de bairros. Um bairro tem muitas ruas.
E talvez você esteja replicando, motorista. Você dos descaminhos: Mas da Rodoviária da Pavuna à Praça do Skate é pertinho! Uns 500 metros !
- Sim. É perto, mas para mulher de 80 anos, aposentada, que ainda lava e passa para fora e arrasta bolsas de roupa por aí; para um homem de 60 anos que, recentemente, perdeu a perna para a diabete e precisa ir sempre à perícia para revalidar o modesto benefício da invalidez; um homem que via suas duas pernas diante do espelho e agora bate muletas sobre asfalto torto e esburacado, esse perto fica longe, muito longe.
Quando você fala desse jeito, motorista, entristece porque ao meu amigo falta uma das pernas para andar, mas a você faltam as duas pernas do cérebro. E carrego esse misto de compaixão e terror por ser você também um explorado, escravo do “Tempo de Viagem” e por qualquer coisinha lhe arrancam uma perna do salário. E aqui faço a minha palinódia, porque não lhe faltam as duas pernas do cérebro. Teu cérebro tem pernas de mais. Pra quê tanta perna meu Deus! Teu cérebro é um polvo. O que lhe falta, motorista, são as pernas do sentimento.
Não. Não desejo nunca, motorista, que você fique diabético, perca uma das pernas e tenha que dirigir muletas para voltar a sentir e compreender essas distâncias.
Para a matemática sempre serão uns 500 metros, uns 5 minutos, mas para a vida podem ser mil anos.
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