Descobri um fio condutor na minha vida. E usarei o surrado procedimento da exemplificação para demonstrá-lo, mas sendo crônica, não poderei contar todos os casos porque nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que seriam escritos e a crônica não desabrocha. Vive em estado de flor. A crônica é um botão de alcaparra. Abre o apetite para lermos o universo dos vários pontos de vista. Por exemplo, no céu à noite, há os que só vêem estrelas, mas hás os que vêem brancas flores de alcaparras desabotoarem-se em redor da lua.
Um dia estagiando na Defensoria Pública, chegou uma jovem com o filho nos braços para ser atendida. Agora é comum jovens com filhos nos braços. Entrou, sentou e enquanto a defensora examinava o processo, tirou um dos peitões, sem silicone, e sufocou o garotinho. O fio condutor de muitas vidas era o bundão, agora é o peitão. A rima permanece. Daí a pouco ela começou a umedecer os lábios e revirar os olhinhos. Ora, estava dando mole! Saí rapidinho de detrás da escrivaninha e vim para frente dela como quem admira o ato do aleitamento materno. Sonso! Disseram-me os olhos do garotinho que mandou a mão no outro peitão. Cai fora! São meus! E ficava a sua cabecinha lá e cá como bolinha de pingue pongue e ela umedecendo os lábios, revirando os olhinhos e o pezinho do garoto empurrando o meu joelho, dizendo: arreda! Vade retro, Satanás! Mas vocês sabem, Satanás é perseverante. Escrevi meu telefone num torpedinho, mas o infeliz caiu, abaixei e quando me erguia quem caía era a jovem, veio com tudo. Salvei o garotinho, a mãe. Fiquei amassado e sufocado pelos peitões e o ingrato do menininho rosnando para o meu lado. A jovem não comia há vários dias e ambos foram para o posto de saúde. O marido não fazia as compras e o processo na mesa da defensora era de Pensão Alimentícia.
Mais tarde trabalhando num posto de saúde, o Juca passando mal, pediu para sair cedo, depois também pedi para sair cedo, mas para comemorar o aniversário de casamento num hotelzinho. Juca era um homem apaixonado pela esposa. Trazia no vidro do carro, nas janelas do seu apartamento, na prancheta de acrílico do serviço o adesivo: “Eu Amo Minha Esposa”.
Quando chegamos qual o carro estava estacionado no hotel? O do Juca! Passando mal! Estava tão mal que esqueceu a porta do carro aberta e entrei, olhei o seu rádio com frente destacável. Levei a frente destacável. No plantão seguinte a equipe médica e eu esperávamos o Juca se queixar e a desculpa a ser dada. Que cara-de-pau. Disse que furtaram a frente destacável no estacionamento do shopping. A equipe me olhou, meti a mão no bolso para lhe entregar, mas não entreguei porque o Juca continuou, dizendo que a esposa havia saído com o carro e a frente destacável havia sido furtada enquanto ela fazia compras. Eu ia processar, gente, mas minha esposa se descabelou toda, dizendo que não saía daquele shopping sem a frente destacável. O gerente ressarciu na hora, ainda deu para ela várias bolsas de roupas novas e me mandou um par de sapatos novinho. Valeu a minha esposa se descabelar! Eu Amo Minha Esposa. E guardei a frente destacável para o Juca não passar mal de novo.
Ainda no posto de saúde, estava de plantão como vigia e certa manhã fui surpreendido pela administradora com a notícia de furto das tampas de ferro dos registros da água. Em volta dos registros havia saco de pipoca, papéis de balas, biscoitos, muito empoeirados e não eram 9 da manhã. Não poderia ter sido no meu plantão o furto porque o saco de pipoca estava envelhecido, tanta poeira! A administradora aceitou a argumentação e sem poder precisar qual o dia, silenciou, mas um zumbido no coração me incomodava: Prova falsa! Já perto de casa retornei e comecei a busca pelo ferro-velho nas imediações do posto. Batata! Tinham sido furtadas no meu plantão mesmo. O dono do ferro-velho dedurou: Pegaram às 6 da manhã, durante o meu café. Recuperei-as e contei o caso à chefe. E nos veio a revelação: Entre 6 e 9 da manhã quanta poeira se acumulara sobre o saco de pipoca, papéis de balas e biscoitos. E lá dentro do posto, gente sendo atendida, gente de boca aberta, dente aberto para receber obturações.
Eis um fio condutor na minha vida: atirar no que viu e acertar no que não viu. Mas nunca acerto no perene. E descobri por esses dias que se menores as alcaparras, mais saborosas e podem durar uns 30 anos. É pena as crônicas não serem como as alcaparras. A maioria delas não duram 30 horas, embora saborosas.
Um dia estagiando na Defensoria Pública, chegou uma jovem com o filho nos braços para ser atendida. Agora é comum jovens com filhos nos braços. Entrou, sentou e enquanto a defensora examinava o processo, tirou um dos peitões, sem silicone, e sufocou o garotinho. O fio condutor de muitas vidas era o bundão, agora é o peitão. A rima permanece. Daí a pouco ela começou a umedecer os lábios e revirar os olhinhos. Ora, estava dando mole! Saí rapidinho de detrás da escrivaninha e vim para frente dela como quem admira o ato do aleitamento materno. Sonso! Disseram-me os olhos do garotinho que mandou a mão no outro peitão. Cai fora! São meus! E ficava a sua cabecinha lá e cá como bolinha de pingue pongue e ela umedecendo os lábios, revirando os olhinhos e o pezinho do garoto empurrando o meu joelho, dizendo: arreda! Vade retro, Satanás! Mas vocês sabem, Satanás é perseverante. Escrevi meu telefone num torpedinho, mas o infeliz caiu, abaixei e quando me erguia quem caía era a jovem, veio com tudo. Salvei o garotinho, a mãe. Fiquei amassado e sufocado pelos peitões e o ingrato do menininho rosnando para o meu lado. A jovem não comia há vários dias e ambos foram para o posto de saúde. O marido não fazia as compras e o processo na mesa da defensora era de Pensão Alimentícia.
Mais tarde trabalhando num posto de saúde, o Juca passando mal, pediu para sair cedo, depois também pedi para sair cedo, mas para comemorar o aniversário de casamento num hotelzinho. Juca era um homem apaixonado pela esposa. Trazia no vidro do carro, nas janelas do seu apartamento, na prancheta de acrílico do serviço o adesivo: “Eu Amo Minha Esposa”.
Quando chegamos qual o carro estava estacionado no hotel? O do Juca! Passando mal! Estava tão mal que esqueceu a porta do carro aberta e entrei, olhei o seu rádio com frente destacável. Levei a frente destacável. No plantão seguinte a equipe médica e eu esperávamos o Juca se queixar e a desculpa a ser dada. Que cara-de-pau. Disse que furtaram a frente destacável no estacionamento do shopping. A equipe me olhou, meti a mão no bolso para lhe entregar, mas não entreguei porque o Juca continuou, dizendo que a esposa havia saído com o carro e a frente destacável havia sido furtada enquanto ela fazia compras. Eu ia processar, gente, mas minha esposa se descabelou toda, dizendo que não saía daquele shopping sem a frente destacável. O gerente ressarciu na hora, ainda deu para ela várias bolsas de roupas novas e me mandou um par de sapatos novinho. Valeu a minha esposa se descabelar! Eu Amo Minha Esposa. E guardei a frente destacável para o Juca não passar mal de novo.
Ainda no posto de saúde, estava de plantão como vigia e certa manhã fui surpreendido pela administradora com a notícia de furto das tampas de ferro dos registros da água. Em volta dos registros havia saco de pipoca, papéis de balas, biscoitos, muito empoeirados e não eram 9 da manhã. Não poderia ter sido no meu plantão o furto porque o saco de pipoca estava envelhecido, tanta poeira! A administradora aceitou a argumentação e sem poder precisar qual o dia, silenciou, mas um zumbido no coração me incomodava: Prova falsa! Já perto de casa retornei e comecei a busca pelo ferro-velho nas imediações do posto. Batata! Tinham sido furtadas no meu plantão mesmo. O dono do ferro-velho dedurou: Pegaram às 6 da manhã, durante o meu café. Recuperei-as e contei o caso à chefe. E nos veio a revelação: Entre 6 e 9 da manhã quanta poeira se acumulara sobre o saco de pipoca, papéis de balas e biscoitos. E lá dentro do posto, gente sendo atendida, gente de boca aberta, dente aberto para receber obturações.
Eis um fio condutor na minha vida: atirar no que viu e acertar no que não viu. Mas nunca acerto no perene. E descobri por esses dias que se menores as alcaparras, mais saborosas e podem durar uns 30 anos. É pena as crônicas não serem como as alcaparras. A maioria delas não duram 30 horas, embora saborosas.
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