segunda-feira, 5 de novembro de 2007

ETA REPOSTA PORRETA!

Com uma rima sepulcral vou contar a historieta local do deputado federal Bento Borboleta, que no trabalho social fazia o genial nunca visto no planeta: andava por tudo o que é bairro, trocando perna mecânica por um par de muletas.
E se dissessem algumas coisas, olhava com cara de mau, de comigo-ninguém-pode, de assustar o capeta. Sou o deputado federal Bento Borboleta! Nessa mão trago pistola, na outra uma caneta. Se a caneta não resorve, arresorvo na espoleta. Esse era o deputado federal Bento Borboleta. Fazia o que era certo, o certo da sua veneta. Vivia cercado de gente que não lhe fazia careta, de gente pobre e humilde, levando uma vida perneta; que de dia comia ovo, à noite sonhava xuleta. Gente imediatista, que trocava seu voto, meu Deus!, até por camiseta. Bento Borboleta às vez andava de terno, às vez trajava jaqueta, mas nunca mudava o discurso, onde quer que ele entrasse não respeitava etiqueta: Sou o deputado federal Bento Borboleta: não bato antes de entrar, ignoro essa plaqueta! Falava tão retumbante que sacudia brincando um poderoso cometa. E borboleteava daqui, borboleteava dali com fantásticas piruetas. E o tempo escorria escondido na areia da ampulheta. E desde já peço perdão por tentar uma crônica e sair essa croniqueta.
Mas crônica não é fragata, transatlântico e em geral não traz escopeta. Quase sempre é uma água-de-flor, uma suave cançoneta, mas pode vir com soldados empunhando baionetas. A crônica é miudinha. A crônica é uma corveta. Do tamanho da minha amada que aqui chamo Julieta. A crônica canta o rico, o pobre e até a sarjeta. A crônica acima de tudo corre atrás do cupim infiltrado na pobre daminha gaveta. Cronista, em vez de lanterna, procura com lanterneta. Mas no Fórum de Meriti, chegou o dia e a hora em que Bento viu a coisa preta. Tão preta, mais preta que a bata do Zé de Anchieta. Seus olhos ficaram vermelhos, ardendo que nem malagueta. Mas também achou de entrar na sala de um juiz-comigo-não-se-meta! Um juiz virginiano, meio francês, que não gostava de graça e muito menos de treta. O deputado pensava que todos se intimidavam com o toque da sua corneta. Girou a maçaneta, saiu entrando e cornetando, barulhando mais que marreta: sou o deputado federal Bento Borboleta! A tropa atrás de si parecia milhões de carretas. Da tropa um trazia baqueta, um outro trazia tarol e quando rufavam os tambores, ele entrava como um Sol expulsando as silhuetas: Sou o deputado federal Bento Borboleta! E o juiz sem sequer erguer os olhos, eta resposta porreta, disse em tom educado para o deputado, limpando as suas lunetas: Muito prazer! Pedro Paulo Mendes Arouet: Juiz para sempre! O deputado saiu da sala com a tropa meio zureta. Mas ninguém se assanhou em sorrir se não ficava maneta. Porém, um não resistiu e tocou a história pela trombeta. Sinceramente esse juiz, nesse mundo de estátuas buscando status, merecia uma estatueta, mas as medalhas do país, agora, modernamente, vão até pros picaretas.

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