sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Minha Primeira Metátese

Tudo bem que na Literatura eu já tinha ouvido nomes estranhos como Homeoteleuto, Poliptoto, Mesoteleuto, Paragoge, mas Metátese? Parece coisa de Lingüística! Porém, não se assuste. Se o nome é estranho, a prática é bem conhecida pelo mundo. É mais simples do que está por vir aí. Segundo a Koogan/Houaiss, metátese é a troca de fonemas no corpo de um vocábulo.

O latim semper deu origem ao português, sempre. Desvariar deu origem a desvairar, tenro a terno.

Ouvi esse nome pela primeira vez numa palestra do poeta Gilberto Mendonça Telles, sobre Drummond, apontando uma metátese no verso: Tinha uma pedra no meio do caminho. A palavra pedra deu origem à palavra perda. Segundo o poeta, referindo-se à morte do filho de Drummond, uma perda. Metátese.

O tempo passou e a palavra adormeceu em mim. Porém, a crise desses nossos dias a despertou. A imaginação foi longe. Rodeou a terra. Deu uma passadinha em Brasília. Quantas metáteses!

Minha primeira metátese se deu recente, parafraseando o poeta português, Fernando Pessoa. No seu verso “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, metateseei e deu origem ao meu Tudo vale a pena se a mala não é pequena. Notaram a diferença?! A palavra alma deu origem à palavra mala. Uma outra palavra. Fácil, não?! Até porque o momento político levado à exaustão pela mídia, reforça o aprendizado.

Mas se esse exemplo não ficou claro, talvez este: o político se entregou de corpo e alma à prostituta. Na metátese, o político se entregou de corpo e mala à prostituta. Perceberam?! Só o homem tem esse dom de mudar o nome das coisas pela palavra. Ele não só nomeia como muda e renomeia. Por exemplo, no meu tempo, quem tirava proveito da prostituição alheia era chamada de cafetina e prostituta era prostituta, mas hoje, não. Já existe a versão atualizada.

Por esses dias, por favor, não me julguem, sou apenas um narrador que como um guia turístico fez uma visita técnica ao local, entrei na Vila Mimosa e fui recebido por uma mulher, sentada, à mesa, cigarrete entre os dedos. Trazia no seio esquerdo um piercing que segurava um crachá onde estava escrito: Promotora de Eventos. Nas outras mesas as garotas com piercings nos seios, crachás e escrito: Eventos. Perceberam a atualização?!

Mas voltando à metátese, muitos não vendem a alma ao diabo, entretanto, vender a mala ao diabo é caso de negociação. Se o preço diabólico for superior ao que vai dentro da mala, por quê não? O meu medo é que se alastre uma onda de metáteses e os pobres gastem seu dinheirinho publicando nos jornais aquelas preces para receber uma Graça das 13 Malas Benditas. Sim. São mais. Bem mais, mas para os pobres bastam 13.

A metátese é tão fácil que pode se dar até no democrático remédio jurídico Habeas Corpus, quando se trata de certos indivíduos. Nesse caso, Habeas Corpus dá origem a Habeas Porcus.

Para terminar, as pesquisas mostram que 68% dos brasileiros são analfabetos funcionais, isto é, não sabem ler direito. É verdade. Muitos políticos não entenderam nada do que disse Jesus: Antes temei aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo. E eles entenderam: Antes temei aquele que pode fazer perecer no inferno a mala e o corpo. A polícia federal está aí mesmo. Por isso esses Malocratas vão às igrejas, tornam-se cristãos...Quem quer perder a mala? E alguns irmãos, não menos interesseiros, oram para santificar a mala. Esquecem que alma dá mala e se esticarmos dá lama. Mas que alma estará preocupada, se ao abrir a mala, tem milhares das escassas notas de cem para limpar a lama?

PS:. Cientistas brasileiros foram convocados em caráter de emergência para clonar um espírito que atende pelo nome de Tranca Rua das Almas. Seu clone será chamado de Tranca Rua das Malas, porque o problema do Brasil não é servidor público nem aposentado, previdência. Nosso planeta tem um sério problema é com as Malas.



*Crônica publicada no jornal Hoje - Diário da Baixada Fluminense, na época do escândalo das malas, outubro de 2005.

Nenhum comentário: